sábado, 3 de julho de 2010

O porquê de tudo

Depois que ela entendeu o porquê de tudo, satisfez-se em apenas beijar-lhe as costas, o peito, desejar-lhe boa noite. Não cabem complexidades em compreensões abrangentes – quanto mais se engloba em um mesmo entendimento, mais generalizado, mais simples ele se torna. Sua total compreensão era uma só – o porquê de tudo era um só, e o porquê do porquê não era nenhum. Como agora ela entendera tudo, toda a vastidão dos mundos existentes e possíveis, restava a ela apenas o mais simples grão de simplicidade. Restava a ela fazer o jantar, costurar as calças de seus filhos quando eles chegassem – e singelamente, quieta, costurar tudo mais que rasgasse. Ela compreendera tudo e percebera que o que lhe restava era costurar. Mas costurar é essencial.

Um comentário:

  1. Estou impressionado com os dois ultimos posts, mesmo.

    Costurar é ter o poder de organizar as coisas. Certa vez li sobre costureiras de colchas de retalhos e tive de concordar. Muitas vezes paramos e não nos damos conta. Aquelas mulheres em seu lido diário fazem um papel interessante, divino talvez. Unem pedaços desconexos com maestria, é o tecido de chita e o veludo da festa, é o opaco com o brilhante, é o liso com o estanpado, o bege com o fluorescente. Mesmo sem perceberem reproduzem a vida e todas as suas incongruencias e complexidades, mas acima de tudo harmônica.

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