segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre Clichês ou Seja Mais Maduro

Um clichê! Pode essa? Mas foi isso mesmo que ela disse: “um clichê”... não, não: “um puta clichê!”. Pois bem, então eu admito. E se é pra ser clichê, sou logo o maior clichê de todos os tempos. Mais clichê que comédia romântica, que criança fazendo aniversário do Nemo, que gravata de presente ou que Fernanda Young no perfil do orkut. Obscuro, fuma, bebe, lê bastante e também escreve muito bem – um neo-quase-nietzsche, ou, em outras palavras, o clichê mais típico da adolescência urbana. O clichê de toda uma geração [ainda não estou com as calças coloridas, até nos clichês eu me atraso um pouco].
Mas é exatamente sendo agora esse clichê descabido que eu me torno, de súbito, o não-clichê por excelência. O avesso do clichê, o menos clichê de todos. Assim como Descartes rebateu os céticos levando-os a suas últimas consequências, eu nego o clichê exagerando-o ele próprio. Elevo-o a discurso. Se duvidando de tudo eu chego a uma verdade indubitável, que é o próprio duvidar, adotando clichês ao máximo eu chego ao anti-clichê maiúsculo. É que hoje em dia foge-se dos clichês com uma ânsia inquisitória – ninguém mais fala em romance, ninguém mais canta “Ana Julia” ou pede o nᵒ1 no Mcdonalds. A circularidade dessa história nunca foi tão escancarada – evitar os clichês virou por si só a atitude mais batida. Discute-se tanto Truffaut quando na verdade o filme de que todos queriam falar é Avatar; resultado: nouvelle vague também virou clichê.
Pois então adiramos ao clichê, grudemos nele o quanto podemos. Admiti-los nega-os etimologicamente. Um clichê admitido como clichê é tão contra-corrente que deixa de ser clichê, mas daí todos admitem o clichê e fugir deles vira Cult de novo e assim ad infinitum... até que resolvamos negar o próprio clichê e o próprio cult, que dependem sempre e tanto da adesão dos outros, e encontremos melhores critérios para pautar nosso repertório.

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