domingo, 16 de novembro de 2008

Bóulesis

Em 1990 estreou a peça 'Six Degrees of Separation', de John Guare. A história baseia-se na teoria de que, se tivéssemos todas as pessoas que conhecemos a um passo de nós, e essas por sua vez tivessem todas as pessoas que conhecem a um passo delas, todas as pessoas do mundo estariam ligadas a uma distância média de seis passos. Seis bilhões de pessoas, e apenas seis pessoas nos separando de cada uma delas. Podemos acreditar ou não que de fato as coisas sejam assim. Mas, quando acreditamos, de algum jeito começamos a nos sentir mais parte de tudo isso e então o mundo não parece mais tão grande assim. Nos sentimos próximos, e essa sensação é reconfortante – pensar que no final das contas não estamos tão sozinhos.
Ainda na peça, a personagem Ouisa Kitrreged diz, a respeito da teoria: “Eu li em algum lugar que todo mundo neste planeta é separado por só seis outras pessoas. Seis graus de separação entre nós e todas as pessoas no planeta. O Presidente dos Estados Unidos, um gondolier em Veneza, apenas descubra as seis pessoas. Eu achei extremamente bom que estejamos tão pertos. Mas isso também me parece um pouco com tortura chinesa – estarmos tão pertos porque temos que achar as seis pessoas certas para fazer a conexão certa... Eu estou ligado, você está ligado a todo mundo por um caminho de seis pessoas”. Quantas conexões certas nós já não deixamos passar? Como saber quais são essas seis pessoas que nos ligarão à pessoa certa? O único jeito é arriscar, conhecer pessoas – e talvez, apenas talvez, acreditar que há alguma coisa por trás de tantas coincidências e azares alheios, aparentemente desconexos. A psicologia moderna diz que, no mundo, várias pessoas têm a capacidade de nos fazer felizes, completos – VÁRIAS pessoas. Mas ainda há aqueles que insistem em acreditar na pessoa certa – quem sabe para esses haja mesmo essa pessoa pela qual vale a pena esperar.
‘Destino’ é outra coisa na qual podemos acreditar ou não. Os gregos acreditavam na existência de um Livro do Destino, que existia desde sempre e que determinava o sim ou não de tudo. Os deuses poderiam consultá-lo, e cabia às Três Parcas executar o que nele estava escrito. Para os gregos ‘moira’, para os romanos ‘fatum’, o destino sempre era visto como pré-determinação implacável. Mas estes mesmos gregos também acreditavam no bóulesis, “desejo” – e quem sabe este seja capaz de fazer com que tomemos nosso destino em nossas próprias mãos.

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